"no primeiro dia do ano eu estava em minas gerais no meio das montanhas e debaixo de um céu com poucas estrelas. no primeiro minuto do ano nenhum barulho ou fogos ou qualquer outra tradição. eu estava sentado no passeio perto da casa onde ela morava, e via um clarão por trás das montanhas. era a luz de outras cidades, um sol noturno. lua crescente mar baixo rio estreito ruas inclinadas e casas com uma luz em cada cômodo. luz mansa sobre os telhados e ruas desertas. tem formigas em cada beirada de estrada andando sem rumo e mesmo sem a luz da noite. ela me dizia que depois de um tempo o olho se acostuma com a escuridão e conseguimos enxergar as coisas pouco a pouco. agora são duas da manhã e tem dois vagalumes na porta descansando. o corpo de um brilha mais que o do outro. estamos todos cansados. sinto a saudade e o gosto que ela tem quando ultrapassa a garganta e chega nos olhos. guardo-a aqui dentro feito uma caverna incerta, como fóssil que ainda não foi descoberto. adormecemos e tudo ainda não aconteceu. nem a noite nem a tarde nem este imenso desejo" J.C.
"no primeiro dia do ano eu estava em minas gerais no meio das montanhas e debaixo de um céu com poucas estrelas. no primeiro minuto do ano nenhum barulho ou fogos ou qualquer outra tradição. eu estava sentado no passeio perto da casa onde ela morava, e via um clarão por trás das montanhas. era a luz de outras cidades, um sol noturno. lua crescente mar baixo rio estreito ruas inclinadas e casas com uma luz em cada cômodo. luz mansa sobre os telhados e ruas desertas. tem formigas em cada beirada de estrada andando sem rumo e mesmo sem a luz da noite. ela me dizia que depois de um tempo o olho se acostuma com a escuridão e conseguimos enxergar as coisas pouco a pouco. agora são duas da manhã e tem dois vagalumes na porta descansando. o corpo de um brilha mais que o do outro. estamos todos cansados. sinto a saudade e o gosto que ela tem quando ultrapassa a garganta e chega nos olhos. guardo-a aqui dentro feito uma caverna incerta, como fóssil que ainda não foi descoberto. adormecemos e tudo ainda não aconteceu. nem a noite nem a tarde nem este imenso desejo" J.C.