Flores bem-comportadas, costuradas com precisão sobre tecidos e tela, descansam em arranjos aparentemente pacíficos — mas é só chegar mais perto que tudo começa a se corromper. Naturezas-mortas têxteis, feitas com trapos de tecidos e roupas íntimas, bordados, pelúcias, botões, miçangas e couro se unem a palavras salpicadas como pistas de algo que não se mostra por inteiro. Cada imagem acompanha um haiku inédito, curto e cortante, como uma mensagem enviada tarde da noite: ambígua, pulsante, suja de amor e ódio. O trabalho se constrói no atrito entre o delicado e o explícito, o riso e a melancolia, o clássico e o contemporâneo. É uma tentativa de erotizar o próprio ato de compor — e de forçar um encontro (neste caso, forçado mesmo) entre o haiku japonês e a natureza-morta europeia, dois gêneros historicamente distantes, que aqui se encaram como se estivessem num date marcado pelo algoritmo de algum app de pegação. O resultado é híbrido, instável, sexy, deliciosamente desconfortável. Ao costurar essas figuras, muitas vezes com tags extraídas do vocabulário pornográfico digital, o artista insere a intimidade do toque manual num espaço habitado por algoritmos, desejos programados e fantasias prontas para consumo. Há humor, sim, mas também uma certa melancolia: a percepção de que nos encontros — físicos ou virtuais — projetamos no outro nossas próprias falhas, nossos restos, nossas sombras e nossas mais profundas vulnerabilidades. E o erotismo que atravessa a série não é puro prazer: ele é também ruído, atrito, e às vezes um "excesso de ausência". Nesse jogo entre os diferentes, emerge uma crítica silenciosa: a dos corpos que se performam, se projetam e se consomem numa economia de imagens, onde o outro é muitas vezes só espelho de nossas próprias carências e perversões. Bittersweet Haiku é, enfim, um convite ao estranhamento: ao perceber que a flor não é apenas uma flor, e que a linguagem, mesmo a mais econômica ou delicada, jamais é inofensiva.